Estudo vai auxiliar no tratamento do câncer de osso que mais atinge crianças e jovens
O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into) iniciou, neste mês de agosto, uma pesquisa com células-tronco em pacientes com diagnóstico de osteossarcoma, tumor maligno do osso que atinge, principalmente, crianças e jovens entre 10 e 20 anos, em fase de crescimento. A pesquisa inaugura uma nova linha de estudo e será a primeira realizada com células-tronco tumorais no Centro de Pesquisa em Terapia Celular e Bioengenharia Ortopédica do Into.
O estudo consistirá no isolamento e expansão in vitro de células-tronco tumorais em duas fases: No momento da biópsia, realizada para a confirmação da doença; e após o tratamento com quimioterapia. Os pesquisadores irão identificar a quantidade de células existentes nessas duas fases e compará-las para verificar a agressividade do tumor e o seu grau de resistência ao tratamento. Também serão realizados testes em camundongos estéreis para provocar a doença e acompanhar o desenvolvimento do tumor in vivo.
Segundo a chefe da Divisão de Pesquisa, Maria Eugênia Duarte, a quantidade de células-tronco tumorais pode estar relacionada com a agressividade, a resistência ao tratamento e a disseminação da doença no organismo. “O resultado é que poderemos fornecer mais um elemento importante para tratar o paciente e será possível identificar se houve resposta ao tratamento. A partir daí, os médicos poderão programar melhor o tratamento baseado nas características individuais de cada tumor”.
A expectativa do ortopedista Walter Meohas, cirurgião especializado no tratamento do osteossarcoma é de que os resultados possam contribuir para reduzir a necessidade de amputações. “É uma pesquisa inédita que vai revolucionar o tratamento. Estou otimista para que dê certo e que possamos preservar mais as crianças. É um trabalho prospectivo, começando por quem está chegando agora para fazer a biópsia para confirmar o diagnóstico”. O médico atende no Into e no Instituto Nacional do Câncer (Inca) aproximadamente 31 casos/ano de pacientes com osteossarcoma que necessitam de cirurgia oncológica.
Células-tronco tumorais - As células-tronco tumorais representam cerca de 1% da massa tumoral. Elas são mais resistentes às terapias e têm o potencial de formar as células que compõem os tumores dependendo do estímulo que recebem. São chamadas de células-mãe, o reservatório do tumor. “Apesar do efeito da quimioterapia ser capaz de eliminar ou diminuir o tamanho de grande parte do tumor, as células-tronco tumorais são bem mais resistentes. O que iremos desenvolver é uma ferramenta de prognóstico para futuramente buscar alternativas para melhorar a resposta dos pacientes ao tratamento”, explica a pesquisadora Suzana Kahn.
O estudo introduz nova forma de avaliar a agressividade biológica do tumor, utilizando uma técnica mais científica e moderna que envolve os conceitos de células-tronco. Será possível identificar quais foram os efeitos da quimioterapia, observando em laboratório a proliferação, sobrevivência e invasão das células no organismo do paciente, além de saber se houve melhora com o tratamento e se aumentará ou não as chances de ocorrer metástase.
Osteossarcoma - O osteossarcoma é um tumor maligno dos ossos. Sua incidência é maior em crianças e jovens, mas pode ocorrer em adultos, sendo secundário à irradiação da radioterapia e da doença de Paget. O tumor atinge o aparelho locomotor, como pernas, braços e coluna, e acomete os pulmões com frequência, em decorrência de metástase. O primeiro sinal é dor e aumento rápido de volume no local, como no joelho e no úmero, por exemplo.
Em 27% dos casos é necessária a amputação. Os outros 73% precisam passar por cirurgia e colocação de prótese ou enxerto para substituir a articulação. Por se tratar de um tumor altamente maligno, o índice de mortalidade da doença também é muito alto. Menos de 5% sobrevivem com osteossarcoma. A taxa de sobrevida do paciente é de 64% em cinco anos e cai para 50% quando ocorre metástase.
Terapia celular - Criado em 2006, o Centro de Pesquisa em Terapia Celular e Bioengenharia Ortopédica (CTCel) é o primeiro laboratório de pesquisa do país especializado em terapia celular e medicina regenerativa, voltado exclusivamente para o tratamento das doenças do aparelho locomotor.
Trabalhando em colaboração com institutos de pesquisa nacionais e internacionais, o CTCel tem como principal missão estabelecer tratamentos inovadores em Ortopedia e Traumatologia para atender, através do Sistema Único de Saúde (SUS), a demanda nacional. Sua principal proposta consiste no desenvolvimento de projetos de pesquisa básica e protocolos clínicos no âmbito da Medicina Regenerativa, utilizando a terapia celular e a bioengenharia tecidual como principais ferramentas.
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